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19.3.17

Medronheiro

árvore

folhas, flores e frutos

folhas

flores

frutos

tronco

árvore em Serralves


mapa das zonas mais adequadas à plantação

escudo de Madrid

El Oso y el Madroño (o urso e o medronho), Madrid


reino  Plantae
filo  Tracheophyta
classe  Magnoliopsida
ordem  Ericales
família  Ericaceae 
nome científico Arbutus unedo L.    
sinónimos  Arbutus unedo var. ellipsoidea Aznov., Arbutus unedo var. salicifolia Regel, Arbutus unedo f. subcrenata Maire         

nome comum  Medronheiro, Ervedeiro, Êrvedo, Êrvodo Meródios, Strawberry Tree, Cain, Cane, Apple Irish, Killarney Morango, madrones ou madronas Strawberry Tree, Arbousier, Arbousier Commun, Madroño

etimologia dos nomes
Arbutus é o diminuitivo de arbor e significa arbusto; alguns autores discordam e afirmam que a origem etimológica encontra-se no termo celta, arbois que significa áspero, rude, aludindo aos seus frutos;
a designação unedo é atribuída a Plínio, o Velho, que supostamente terá alegado "unum tantum edo", que significa "eu como apenas um"; não se sabe se ele quis dizer que o fruto era tão bom que ele podia comer apenas um, ou quis dizer que o fruto era desinteressante e, por isso, terá comido apenas um;
os membros do género são chamados madrones ou madronas nos Estados Unidos, do nome espanhol madroño;

evolução e taxonomia
foi uma das muitas espécies descritas por Carl Linnaeus no I Volume da sua obra de 1753 Species  Plantarum, dando-lhe o nome que ainda hojemantém;
um estudo publicado em 2001, que analisou o DNA ribossômico da planta e géneros relacionados, verificou que a planta é parafilética e está estreitamente relacionada com as outras espécies da bacia do Mediterrâneo, como o medronheiro-oriental, Arbutus andrachne e o A. canariensis e não aos membros do género da América do Norte;
O medronheiro, o medronheiro-oriental hibridam naturalmente onde os seus habitats se sobrepõem; o híbrido tem sido denominado Arbutus × andrachnoides (syn A. × hybrida, ou A. andrachne × unedo), herdando traços de ambas as espécies progenitoras, embora os frutos não se vcriem livremente, e como híbrido é improvável que se reproduza a partir de sementes ; é vendido na Califórnia como Arbutus x marina nomeado por um distrito de San Francisco, onde foi hibridizado.
                                                                                                                                 
características morfológicas
o medronheiro tem normalmente um crescimento do tipo arbustivo, até uma altura de aproximadamente 5-10 m, raramente até 15 m, com um diâmetro de tronco de até 80 cm;
o tronco, tortuoso, possui um ritidoma delgado, gretado, pardo-avermelhado ou pardo-acinzentado, muito escamoso, caduco em pequenas placas nos exemplares mais velhos; os ramos, erectos, são também tortuosos e brotam do tronco a partir de 50 cm do solo e são também bastante espaçados entre si;
a copa é arredondada, com folhas persistentes, lanceoladas, de 5-10 cm de comprimento e 2-3 cm de largura, elípticas, coriáceas, serradas, com pecíolo curto por vezes avermelhado, alternadas, glabras excepto na base, lustrosas e verde-escuras brilhantes na face superior, mais claras na face inferior, com a margem serrilhada, semelhantes à do sobreiro; 
as flores são urceoladas, brancas ou levemente rosadas, hermafroditas, 4-6 mm de diâmetro, produzidas em panículas terminais pendentes de 10-30 no Outono; são polinizadas pelas abelhas; são muito decorativas;
o fruto, o medronho, é uma baga globosa e verrugosa, com 1-2 cm de diâmetro e superfície áspera; é primeiro verde, passando por amarelo e tornando-se depois escarlate a vermelho-escuro durante o amadurecimento que é retardado por cerca de cinco meses depois da polinização; desta forma o fruto amadurece no Outono, quando surgem as flores da época seguinte; as sementes são pequenas, angulares e de cor castanha; é comestível mas um pouco indigesto pois contém muitos taninos; se estiver muito maduro pode dar origem a ligeiras intoxicações alcoólicas; é doce quando maduro e tem gosto semelhante ao figo; contém vitamina C e 10-20% de açúcares; é bastante apreciado no sul de Portugal, onde é usado na produção de licores e aguardentes destiladas; frutifica a partir dos 8-10 anos;

utilização
do medronho, para além de poder ser comido em fresco, fazem-se imensos derivados, desde a geleia, a aguardente (aguardente de medronho) até aos licores, vinagres, bolachas e compotas;
em medicina popular era utilizado como adstringente, como diurético e como anti-séptico das vias urinárias, tem um forte poder antibacteriano e é utilizado na arteriosclerose, diarreia, doenças do fígado e rins; o mel tem propriedades balsâmicas;
é uma árvore ornamental, devido às flores e frutos muito vistosos que sobressaem das folhas verde-escuro, embora fora do seu habitat natural o cultivo seja muitas vezes difícil, devido à sua intolerância à perturbação da raiz;
os frutos, comestíveis, servem a produzir a perfumada aguardente de medronho;
é utilizada  para lenha uma vez que queima com grande poder de fogo e aquecimento; muitos Estados do Pacífico Noroeste, nos Estados Unidos, usam a madeira principalmente como fonte de calor, pois a madeira não tem valor na produção de casas, uma vez que não cresce em madeiras direitas;
a madeira é também boa para tornear;
as folhas e o ritidoma contêm taninos, úteis no curtimento de peles.

histórico
a aguardente de medronho é o ex-libris dos destilados do Algarve; tudo indica que esta aguardente começou a ser produzida de forma artesanal, para fins medicinais, pelos Árabes, em Monchique, por volta do século X.; em 1940 existiam em Monchique 55 alambiques e 3 mercadores de licores (Gascon); em 1905 existiam em Loulé 61 fabricantes de aguardente (Ataíde de Oliveira);
na Grécia a aguardente é produzida com a designaçãode  koumaro, proveniente dos frutos do arbusto designado por koumaria e está documentada desde dos tempos dos Bizantinos (que terminou em 1453);
em Espanha também há experiências de produção de aguardente de medronho e de outros pequenos frutos;
na ilha da Sardenha também se produz aguardente de medronho, (corbezzolo/corbezzoli) mas o mais tradicional são os licores, compotas e rebuçados de medronho.

ocorrência, habitat e ecologia
árvore ou pequeno arbusto, folhosa, de folha persistente, frutífera e ornamental, nativa da região mediterrânica, Europa Ocidental, todo o território de Portugal continental, o Norte de Espanha, as regiões das Ilhas Canárias (Tenerife), sul da Europa, Irlanda, norte de África, Palestina e  América do Norte, que pode ser encontrada tão a norte como no oeste de França e na Irlanda; sobrevive em zonas de elevado declive onde dificilmente outras culturas sobrevivem;
ocorre consociada às Quercíneas, particularmente ao sobreiro e à azinheira, em bosques mistos, nos montados e em zonas de matos resultantes da sua degradação, em precipícios e desfiladeiros fluviais e em solos rochosos;
em Portugal é espontânea em quase todo o território, embora com maior frequência a sul do Tejo, onde adquire importância de relevo, sobretudo nas serras de Monchique e Caldeirão, nas quais ocupa proporcionalmente grandes superfícies;
o medronheiro, devido à degradação da floresta primitiva, é hoje uma das  únicas espécies com porte arbóreo em matos perenes, nas orlas de bosques nas encostas e mais terras, outrora cobertas de carvalhos;
é uma árvore tolerante ao sombreamento; suporta climas com períodos estivais secos e pluviosidade baixa, bem como altitudes elevadas, até aos 1200 m; prefere solos siliciosos da costa ou da montanha, mas suporta os calcários e pobres em húmus, de textura e humidade médias; renova bem pelo cepo;
a reprodução do medronheiro obedece a um mecanismo natural desta espécie; começa com a queda do fruto maduro, no Outono/Inverno, a partir do qual se produz uma maceração e fermentação das sementes; a maceração é ajudada, em grande parte, pela manta vegetal e o sucesso de germinação, na Primavera seguinte, dependerá das condições edafo-climáticas em que decorreu essa maceração/fermentação;
prospera com relativa exposição marítima e tolera a poluição industrial;
vive para além de 200 anos , mas é mais produtiva entre os 15 a 25 anos;
esta espécie não foi analisada pela IUCN Red List.      

sistema
terrestre

outras notas
este arbusto de folhas persistentes estava, para os Antigos, ligado à morte e à imortalidade: "Apressam-se a entrançar os caniços de um esquife flexível com ramos de medronheiro e de carvalho, erguendo um leito fúnebre sombreado de verdura", escreve Virgílio, descrevendo as exéquias de Palas, companheiro de Eneias (ENEIDA, 11, 63-65);
o medronheiro faz parte do brasão (El oso y el madroño) da cidade de Madrid, Espanha; no centro da cidade (Puerta del Sol) há uma estátua de um urso comendo o fruto do medronheiro, o medronho. A imagem aparece em cristas de cidade, táxis, tampas de homem-buraco, e outra infra-estrutura de cidade;
o medronheiro era importante para os povos do Straits Salish, da ilha de Vancôver, que usou a casca e as folhas da árvore para criar produtos medicinais para o resfriamento, problemas do estômago, tuberculose e como base para contraceptivos; a árvore também figurava em certos mitos do estreitode  Salish: de acordo com o Straits Salish, uma forma antropomórfica de pez, iria pescar mas voltaria à costa antes de ficar muito quente; um dia chegou tarde demais para voltar para a praia e derreteu com o calor e várias árvores antropomórficas correram para o agarrar - o primeiro foi Douglas Fir, que agarrou a maior parte, o Grand Fir que ficou com uma pequena porção, e o Medronho que não recebeu nada - é por isso que dizem que ainda não têm pez;
também, de acordo com as lendas do Grande Dilúvio de vários sítios do noroeste, o Medronho ajudou as pessoas a sobreviver, fornecendo-lhes uma âncora no topo de uma montanha; devido a isso o povo Saanich não queima o medronho como agradecimento por tê-los salvado;
“My love's an arbutus, Meu amor é um medronheiro” é o título de um poema do escritor irlandês Alfred Perceval Graves (1846-1931), musicado pelo seu compatriota Charles Villiers Stanford (1852-1924):

My love's an arbutus
By the borders of Lene,
So slender and shapely
In her girdle of green.
And I measure the pleasure
Of her eyes' sapphire sheen
By the blue skies that sparkle
Through the soft branching screen.

But though ruddy the berry
And snowy the flower
That brighten together
The arbutus bower,
Perfuming and blooming
Through sunshine and shower,
Give me her bright lips
And her laugh's pearly dower.

Alas, fruit and blossom
Shall lie dead on the lea,
And Time's jealous fingers
Dim your young charms, Machree.
But unranging, unchanging,
You'll still cling to me,
Like the evergreen leaf
To the arbutus tree.





My Love's An Arbutus, Joanna Henwood, melodia tradicional irlandesa

https://www.youtube.com/watch?v=xFAhnpRBwOE


fontes.
Aldeias do Xisto. Medronheiro, [url] http://aldeiasdoxisto.pt/artigo/77, ac. 18.03.2017.

Costa, Margarida. Vamos apanhar medronhos, Público Online, [url] https://www.publico.pt/jardinagem/jornal/vamos-apanhar-medronhos-25498132, ac. 03.11.2012.

Árvores e Arbustos de Portugal. Medronheiro, [url] http://arvoresdeportugal.free.fr/IndexArborium/Ficha%20MedronheiroArbutusunedo.htm, ac. 18.03.2017.

Florestar.net. Medronheiro (ervedeiro), Arbutus unedo L., [url] http://www.florestar.net/medronheiro/medronheiro.html, ac. 18.03.2017.

ITIS, Integrated Taxonomy I(nformation Service, [url] https://www.itis.gov/servlet/SingleRpt/SingleRpt?search_topic=TSN&search_value=23629#null, ac. 18.03.2017.

Jardim Gulbenkian. Medronheiro, Arbutus unedo, [url] https://gulbenkian.pt/jardim/garden-flora/medronheiro/, ac. 18.03.2017.

Naturlink. Medronheiros e medronhos, [url] http://naturlink.pt/article.aspx?menuid=55&cid=91192&bl=1&viewall=true, ac. 18.03.2017.

Rota dos Recursos Silvestres, ADRAL – Agência de Desenvolvimento Regional do Alentejo. Medronho, [url] http://www.adral.pt/pt/rrsilvestres/recursos/Paginas/Medronho.aspx, ac. 18.03.2017.

SapoLifestyle. Medronheiro, [url] http://lifestyle.sapo.pt/saude/saude-e-medicina/artigos/medronheiro, ac. 18.03.2017.

Serralves. Espécies no Parque, Arbutus unedo L., [url] http://serralves.ubiprism.pt/species/show/222, ac. 18.03.2017.

The Plant List, [url] http://www.theplantlist.org/tpl1.1/search?q=arbutus+unedo, ac. 18.03.2017.

Wikipedia. Medronheiro, [url] https://pt.wikipedia.org/wiki/Medronheiro, ac. 18.03.2017.

Revolvy. Arbutus unedo Topics, [url] https://www.revolvy.com/topic/arbutus%20unedo&stype=topics, ac. 18.03.2017.

UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Jardim Botânico. Arbutus unedo, [url] https://jb.utad.pt/especie/arbutus_unedo, ac. 18.03.2017.


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