SEGUIDORES

17.8.18

ANIMAIS CUJA CAÇA É PROIBIDA EM ANGOLA - MAMÍFEROS




Bambi.
ETIM. adap. de Mbambi, kimb. s.(-, ji-), antílope maior que a corça, cervo, veado [Assis Jr.]; nhan. s.(o-, ono-), antílope [Bonnefoux] e umb. s.(o-, olo-), veado, cabra do mato [Daniel]. || ZOO. São conhecidos por bambi os mais pequenos antílopes que ocorrem em Angola, bovídeos da subfamília dos Cefalofíneos, também designados cabra ou cabrito-do-mato, entre outras designações locais. Não devem ser confundidos com o bambi de Walt Disney, na verdade uma cria de veado-da-virgínia, Odocoileus virginianus. Os bambis vivem em florestas, savana arbustiva e zonas de montanha com matas fechadas, até aos 3.000m de alt., onde existam cursos de água próximos. São animais noturnos que vivem isolados ou aos pares na época de reprodução e a sua atividade ocorre ao amanhecer, ao crepúsculo e à noite, com exceção do bambi-de-fronte-negra que também pratica incursões diurnas. Alimentam-se de sementes e frutos caídos, para o que contam com a ajuda dos macacos, bagas, musgo, ervas, folhas e rebentos; é o único antílope que inclui carne na dieta: ovos, insetos, ratos, aves e, esporadicamente, carne em decomposição. A maturidade sexual da fêmea é atingida entre os 8 e os 12 meses e a do macho entre os 12 e os 18. São monogâmicos, o período de gestação varia, de espécie para espécie, entre os 7 e os 9 meses e geram uma cria por ano (muito raramente duas), que desmama entre os 2 e os 5 meses. A fêmea mantém a cria afastada do território e resguardada durante os primeiros 2 a 3 meses de vida, período durante o qual cria e mãe comunicam entre si por pequenos balidos. São seus principais predadores a águia, a civeta, o crocodilo, o gato-selvagem, o lagarto-monitor, o leopardo e a pitão.

1. Bambi ou Cefalofo de fronte negra
Bambi-de-fronte-negra. TAX. ZOO. Cephalophus nigrifrons (IUCN LC), o bambi-de-fronte-negra, mede 90cm-1,10m de c. (excluindo a cauda de 10-15cm) e 45-55cm de a. ao garrote. A pelagem é castanha com exceção das patas dianteiras e cauda que são matizadas de preto. Apresenta uma faixa preta que se prolonga do focinho até aos chifres. Estes são curtos, anelados na base e lisos até às pontas, pontiagudos e curvados para trás. As glândulas de almíscar estão situadas na face, numa zona desprovida de pelos. Ocorre de N a S de Angola.










imagem: David Bygott





2. Bambi grande de dorso amarelo
TAX. ZOO. Cephalophus silvicultor (CITES II, IUCN LC), o bambi-grande ou gigante, o maior destes antílopes, mede 1,15-1,45m de c. (excluindo a cauda de 11-20cm) e 65-80cm de a. ao garrote para um peso que varia entre 45 e 80kg. A pelagem é cinza escura e preta com uma zona em forma de cunha, na parte traseira, de pêlos eréteis que variam do amarelo ao alaranjado; a pelagem das crias é castanha escura com pintas brancas nas partes laterais do corpo e manchada de vermelho nas partes inferiores; a cunha traseira das crias é preta até aos 5-9 meses de idade, altura em que se inicia o tingimento em tons amarelados; o focinho é de cor cinza-clara e os lábios brancos. Os chifres, existentes em ambos os sexos, medem 8,5-12cm e curvam-se ligeiramente para baixo, nas pontas. Ocorre no N de Angola.




“O certo é que integrou o meu corpo ao seu prazer, os passos mudaram, no curto instante em que para mim vinham os olhos de mbambi, não só examinavam o que se passava no seu interior mas também examinavam o corpo que ia ao seu encontro.” Pepetela 2004:128.

“Um bambi, surpreendido na cama, levantou-se diante deles, a poucos metros, e largou em corrida disparada, mais ágil e leve do que o vento.”Galvão1981:64.

“nérveo / como o saltitar do bambi / lesto e atento ao reflexo enluarado / que lhe aponta a forma exata do fruto apetecido.” Lindo 2011:41.

“Não gastava chumbo em coelhos nem alvejava os pequenos bâmbis, a que ali chamavam cabras-do-mato.” Trabulo 2007:52.




3. Caama, caúmba ou vaca do mato.
ETIM. adap. do umb. Kahama, s.(o-, olo-), ms. O.OC. Cahama. SIN. Cahumba. O.LING. her. Okatxove; kun. ~Tso, Ds’oo. || TAX. ZOO. Alcelaphus buselaphus caama (IUCN LC), a caama, cahumba ou vaca-do-mato é um antílope da s.fam. dos Alcelafíneos, morfologicamente muito semelhante ao Cacu, mas que se distingue pelo porte, pelos chifres e pela coloração, nomeadamente pela mancha negra da fronte e pelas manchas das pernas. A caama mede 2-2,30m de c., com 45-70cm de cauda, 1,20m-1,45m de a. ao garrote e pesa entre 150 e 200kg. A face é alongada e a testa alta, as pernas altas e delgadas e apresenta um ligeiro desnível entre o garrote e os quartos traseiros. A pelagem é vermelha ou castanho-avermelhada, com a região da rabadilha mais clara; na fronte apresenta uma larga barra negra, desde a testa até ao nariz, mas interrompida na região dos olhos; as pernas são pretas, mas esta mancha negra não se prolonga tão pronunciadamente, pelas espáduas e garupa, como no Cacu; a cauda, com tufos borlados, é preta. Os chifres, existentes em ambos os sexos, em pronunciada forma de lira, são grossos, com anéis vincados, medem entre 45 e 70cm de c. e são mais pequenos nas fêmeas. Atinge a maturidade sexual entre o ano e meio e os dois anos, o período de gestacção é de 8 meses e gera uma cria por gestacção, que desmama aos 4 meses. Os nascimentos ocorrem em qualquer época do ano. Vive na savana árida, em grupos de celibatários e grupos mistos de 6 a 20 indivíduos, formando manadas de 300 animais. Pasta ao romper da manhã e ao cair da tarde. Durante estes períodos um dos animais coloca-se sobre uma termiteira perscrutando o território, alerta contra os predadores. Alimenta-se de erva e, esporadicamente, de folhas. Sobrevive durante longos períodos longe de fontes de água. São seus principais predadores a chita, a hiena, o leão, o leopardo e o mabeco. Em Angola ocorre na província do Cunene.





imagem: Africa Hunting Gazette



4. Chacal de flancos raiados.
O.LING. kimb. Mbulu, s.(-, ji-), carnívoro do género “canis”, de pelo cinzento, chacal [Assis Jr.]; Taf Nafé, bal.; Djurto, cr.gb.; Ndondu-dané, ful.; Mbunc, nal. || TAX. Animalia, Mammalia, Carnivora, Canidae, Canis adustus (Sundevall, 1847), ZOO. O chacal-de-flancos-raiados tem uma cabeça com focinho longo e mandíbulas fortes com 42 dentes, adaptados para espetar, rasgar e esmagar. As orelhas são grandes e sensíveis ao mais pequeno som. As patas são longas e finas, suportam um corpo musculado e um peito largo, capazes de o fazer escapar de carnívoros maiores, quando atacado. As patas, largas, são almofadas, para o ajudarem a correr em solo duro e providas de garras curtas. Consegue atingir velocidades da ordem dos 60 km/h. A pelagem é cinza-bege malhada, com riscas brancas e pretas localizadas em ambos os flancos, a sua característica identitária. A cauda, com 30-41 cm de c., que agita para comunicar com a matilha, é farfalhuda e apresenta a ponta branca. Comunica por sinais vocais (grito explosivo, latido de socorro, grunhidos, uivos, gemidos e gritos, semelhantes a buzinas), olfativos (secreções das hormonais sexuais, anais e por marcações do território), visuais (posturas e expressões faciais) e táteis (comportamento sexual, afiliativo, materno e agressão).O dimorfismo sexual é pouco evidente. O macho mede 66-81 cm de c. e a fêmea 65-76 e a altura média é de 45-50cm. O peso do macho é de 5,9-12 kg e o da fêmea de 6,2-10. SEX. A maturidade sexual ocorre por volta dos 11 meses. O casal é monogâmico e pode viver conjuntamente por toda a vida. O período de gestação é de 57-70 dias. O acasalamento ocorre nos meses de junho e julho. Entre agosto e novembro nascem 3-6 crias, e o intervalo de procriação é de 1 ano. Os nascimentos ocorrem numa toca (geralmente a toca de um jimbo1) ou num morro de salalé2 abandonado. A toca compõe-se de um espaço principal, destinado ao descanso, ao acasalamento e ao parto e 2 túneis para fuga em caso de perigo. As crias desmamam entre as 8 e as 10 semanas. Durante as 5 primeiras semanas são alimentadas com leite materno, mas depois necessitam de carne. O macho parte sozinho em busca da comida. Depois de apanhar a presa, esta é engolida e levada no estômago para a toca, onde é regurgitada para as crias. Por altura da desmama esta tarefa é compartilhada por ambos os membros do casal. A esperança média de vida é de 10 anos em cativeiro (desconhecida em estado selvagem). É um animal reservado e cauteloso, companheiro leal e progenitor dedicado. Pode conviver com o chacal-de-dorso-negro, Canis mesomelasocupando cada qual um nicho ecológico diferente, o que reduz a competição. 




ALIM. Não é, como se julga, um ávido necrófago nem depende de predadores mais poderosos. Passa a maior parte das suas horas de atividade a caçar ou a procurar plantas para comer. É um animal omnívoro: alimenta-se de frutos, sementes, cereais, pequenos roedores, lebres, aves, insetos e resíduos orgânicos. Desloca-se sozinho ou em grupos familiares. Escava o terreno à procura principalmente de salalé. Esconde a carne antes de se alimentar dela. Quando habita na proximidade de aldeias ou de cidades, não hesita em caçar aves de capoeira ou assaltar as plantações. ECO. Prefere vaguear pelo seu território camuflado pelo crepúsculo e pela noite. Vive nas regiões húmidas de África, percorrendo as áreas costeiras, ao redor de florestas até aos 1.700 m de alt., nos habitats abertos, na savana arbustiva, na savana herbácea, nas terras agrícolas e também nas áreas urbanas. É nativo de África do Sul, Angola, Benim, Botswana, Burquina Faso, Burundi, Camarões, Chade, Costa do Marfim, Etiópia, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Malawi, Mali, Mauritânia, Moçambique, Namíbia, Níger, Nigéria, Quénia, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, República do Congo, Ruanda, Senegal, Serra Leoa, Somália, Sudão, Suazilândia, Tanzânia, Togo, Uganda, Zâmbia e Zimbábue. Encontra-se em quase todo o território angolano, com exceção da faixa costeira do SO. São seus predadores os grandes carnívoros e, especialmente, o cão e o Homem. PROT. É acusado de matar ovelhas e outros animais domésticos e de ser um transmissor da raiva e é, por isso, alvo de caça. Beneficia, no entanto, do facto de estar presente em muitas áreas protegidas. Não obstante a caça que lhe é movida, a população continua estável. Não figura nos anexos da CITES nem da ACCNR e está classificado como LC pela IUCN Red List. [biblio: Bout, ITIS, Mammal Species, IUCN Red List] 


1. Porco-formigueiro, porco-da-terra ou aardvark, Orycteropus afer.
2. Termiteira da também chamada formiga-branca, Macrotermes bellicosus.

                                                                                                       






As designações a negrito, que se seguem aos números de ordem, são as constantes do Decreto Executivo Conjunto Nº 37/99, de 27 de Janeiro.

Os textos referentes às Etimologias, Taxinomia e Zoologia, bem como as citações literárias, foram retirados da obra inédita

LINDO, Admário Costa. O Angolense - dicionário da linguagem angolana.




Abreviaturas, Notas e Sinais


a. = Altura.
ACCNR = African Convention on the Conservation of Nature and Natural  
                 Resources (Convenção Africana para a Conservação da Natureza e  
                 dos Recursos Naturais).adap. = Adaptação (diacrítica/morfológica).
alt. = Altitude(s).
bal. = Balanta. 
biblio. = Bibliografia consultada.
c. = Comprimento.
CITES I, II, III = Anexos I, II, III da CITES (1)
cr.gb. = Crioulo da Guiné-Bissau.
ECO. = Ecologia.
ETIM. = Etimologia.
ful. = Fula.
IUCN LC = categoria da Lista Vermelha IUCN (2)
kimb. = Kimbundu, Quimbundo.
nal. = Nalu.
nhan. – Olunhaneka, Nhaneca.
O.OC. = Outras ocorrências gráficas.
PROT. = Estatuto de Proteção e Conservação.
s. = Substantivo.
s.(mu, a) = Substantivo (pref. sing., pref. pl.);
                  [lu-, ma(lu)] significa que o pref. do pl. se junta 
                  ao do s.
SEX.= Comportamento e vida sexual.
s.fam. = Subfamília.
SIN. = Sinónimo.
TAX. = Taxinomia.
umb. = Umbundu, Umbundo.
ZOO. = Zoologia, termo ou conteúdo zoológico.

notas:
(1)
A CITES (Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora) Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção, também conhecida por Convenção de Washington, é um acordo multilateral assinado em Washington, E.U.A., a 3 de Março de 1973 que agrupa um grande número de Estados.
Este Acordo tem como objetivo assegurar que o comércio de animais e plantas selvagens e produtos deles derivados não ponha em risco a sobrevivência das espécies nem constitua um perigo para a manutenção da biodiversidade.
A União Europeia (UE) transpôs para a legislacção interna, o tratado da Convenção pelo Regulamento (CE) 338/97, de 26 de Maio.
As espécies contempladas na CITES estão inscritas em três anexos, de acordo com o grau de proteção:
Anexo I
Lista espécies que são as mais ameaçadas entre os animais e plantas protegidos pela CITES. Estão ameaçados de extinção e é proibida a sua comercializacção internacional. Contudo a comercializacção pode ser permitida sob circunstâncias excecionais, como seja a utilizacção para fins de pesquisa científica. Tem correspondência no Anexo A do Regulamento da UE.
Anexo II
Lista espécies que não estando, momentaneamente, ameaçadas de extinção, podem vir a está-lo e por isso são fortemente controladas, evitando-se uma comercializacção não compatível com a sua sobrevivência. Tem correspondência no Anexo B do Regulamento da UE.
Anexo III
Lista espécies incluídas a pedido de uma das Partes, que regulamenta o comércio de espécies e necessita da cooperacção de seus parceiros a fim de prevenir a insustentabilidade ou a exploracção ilegal. Tem correspondência no Anexo C do Regulamento da UE.
A UE acrescentou, na transposição da Convenção para a regulamentacção interna, um quarto anexo:
Anexo D – que lista espécies que, apesar de não possuírem estatuto de proteção especial, são alvo de um volume de importações comunitárias que justifica uma vigilância apertada.
CITES UE refere a transposição dos Anexos CITES para a norma Europeia.

(2)
A IUCN (International Union for Conservation of Nature and Natural Resouces) União Internacional para a Conservacção da Natureza e dos Recursos Naturais reúne 81 Estados, 113 agências governamentais, mais de 850 ONG (organizações não-governamentais) e cerca de 10.000 especialistas e técnicos de mais de 180 países, numa associacção mundial de caráter único. Procura influenciar, alertar e ajudar os povos de todo o mundo a conservar a integridade e a diversidade da Natureza e assegurar que o uso dos recursos naturais seja equitativo e ecologicamente sustentável. É a Maior rede mundial de conhecimento ambiental e já ajudou mais de 75 países a preparar e implantar estratégias nacionais de conservacção da diversidade biológica. 
A Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas (IUCN Red List of Threatened Species) classifica as espécies de acordo com o seu risco de extinção. É uma base de dados onde se pode encontrar informacção acerca do estado mundial e outros dados de referência sobre cerca de 40.000 espécies. O seu principal objetivo é identificar e documentar as espécies cuja conservacção requer Maior atenção e oferece um índice do estado da diversidade biológica.
Categorias da Lista Vermelha:
[ 2001 Categories & Criteria (version 3.1) ]:
EX  (Extinct) – um taxon está Extinto quando não existem dúvidas razoáveis de que o seu último indivíduo morreu. Um taxon presume-se Extinto quando exaustivos levantamentos em habitats conhecidos e/ou prováveis, em épocas apropriadas (diurnas, sazonais, anuais), em todo o seu espaço histórico, falharam no registo de um indivíduo.
EW (Extinct in the wild) – um taxon está Extinto na natureza quando se sabe que apenas sobrevive em cultivo ou cativeiro ou como populacção (ou populações) adaptadas, completamente fora do seu habitat anterior. Um taxon presume-se Extinto em Estado Selvagem quando exaustivos levantamentos em habitats conhecidos e/ou prováveis, em épocas apropriadas (diurnas, sazonais, anuais), em todo o seu espaço histórico, falharam no registo de um indivíduo.
CR (Critically endangered) – um taxon está Em perigo crítico quando perto de um alto risco de extinção, em estado selvagem, no futuro imediato.
EN (Endangered) – um taxon está Em perigo quando não está Perigosamente Ameaçado mas perto de um alto risco de extinção num futuro próximo.
VU (Vulnerable) – um taxon está Vulnerável quando não está Ameaçado ou Perigosamente Ameaçado mas perto de um alto risco de extinção, em estado selvagem, num futuro de médio prazo.
NT (Near threatened) – um taxon está Quase ameaçado quando a avaliacção não o classifica como CR, EN ou VU mas está perto de ser classificado numa destas categorias num futuro próximo.
LC (Least concern) – Seguro ou pouco preocupante - não satisfaz nenhum dos critérios CR, EN, VU e NT; os taxons muito difundidos e abundantes estão incluídos nesta categoria.
DD (Data deficient) – Dados insuficientes.
NE (Not evaluated) – Não avaliado.



Bibliografia

ASSIS JR.
ASSIS JÚNIOR, António de.       
- Dicionário Kimbundu-Português, Linguístico, Botânico, Histórico e Coreográfico. Argente Santos & Cª Ldª, Luanda, s/d.

BONNEFOUX, Pde. Benedicto M.
1940. Dicionário Olunyaneka-Português.  Missão da Huíla, Sá da Bandeira.

BOUT, Nicolas & Ghiurghi, Andrea.
2013/2016. Guide des mammifères du Parc National de Cantanhez/ Guia dos Mamíferos do Parque Nacional de Cantanhez, Guiné-Bissau. Acção para o Desenvolvimento, Guiné-Bissau/Associazione Interpreti Naturalistici Onlus, Itália/ Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas da Guiné-Bissau/IUCN- União Internacional para a Conservação da Natureza, Guiné-Bissau, ISBN: 9788890894923, [url] https://www.researchgate.net/publication/322490831_GUIA_DOS_MAMIFEROS_DO_PARQUE_NACIONAL_DE_CANTANHEZ?enrichId=rgreq-3b7b6df5e55be373366fdf1fd3fff7b3-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMjQ5MDgzMTtBUzo1ODI4MTQyOTE1MTMzNDRAMTUxNTk2NTE2MzEzMg%3D%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf.

DANIEL, Rev.º Henrique Etaungo.
2002. Ondisionalu Yumbundu, Dicionário de Umbundo. Edições Naho, Lisboa.

GALVÃO, Henrique.
1981. Romance dos Bichos do Mato, Kurika. Livraria Popular de Francisco Franco, Lisboa.

LINDO, Admário Costa.
2011. Solaris, O Oitavo Mar. Corpos Editora, Porto.

PEPETELA.
2004.  A Geração da Utopia. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 7ª ed.      

TRABULO, António.
2007. Os Colonos, Esfera do Caos Editores Lda, 1ª ed., Lisboa.



atualizado a 18.08.2018 05H22.



19.3.17

Medronheiro

árvore

folhas, flores e frutos

folhas

flores

frutos

tronco

árvore em Serralves


mapa das zonas mais adequadas à plantação

escudo de Madrid

El Oso y el Madroño (o urso e o medronho), Madrid


reino  Plantae
filo  Tracheophyta
classe  Magnoliopsida
ordem  Ericales
família  Ericaceae 
nome científico Arbutus unedo L.    
sinónimos  Arbutus unedo var. ellipsoidea Aznov., Arbutus unedo var. salicifolia Regel, Arbutus unedo f. subcrenata Maire         

nome comum  Medronheiro, Ervedeiro, Êrvedo, Êrvodo Meródios, Strawberry Tree, Cain, Cane, Apple Irish, Killarney Morango, madrones ou madronas Strawberry Tree, Arbousier, Arbousier Commun, Madroño

etimologia dos nomes
Arbutus é o diminuitivo de arbor e significa arbusto; alguns autores discordam e afirmam que a origem etimológica encontra-se no termo celta, arbois que significa áspero, rude, aludindo aos seus frutos;
a designação unedo é atribuída a Plínio, o Velho, que supostamente terá alegado "unum tantum edo", que significa "eu como apenas um"; não se sabe se ele quis dizer que o fruto era tão bom que ele podia comer apenas um, ou quis dizer que o fruto era desinteressante e, por isso, terá comido apenas um;
os membros do género são chamados madrones ou madronas nos Estados Unidos, do nome espanhol madroño;

evolução e taxonomia
foi uma das muitas espécies descritas por Carl Linnaeus no I Volume da sua obra de 1753 Species  Plantarum, dando-lhe o nome que ainda hojemantém;
um estudo publicado em 2001, que analisou o DNA ribossômico da planta e géneros relacionados, verificou que a planta é parafilética e está estreitamente relacionada com as outras espécies da bacia do Mediterrâneo, como o medronheiro-oriental, Arbutus andrachne e o A. canariensis e não aos membros do género da América do Norte;
O medronheiro, o medronheiro-oriental hibridam naturalmente onde os seus habitats se sobrepõem; o híbrido tem sido denominado Arbutus × andrachnoides (syn A. × hybrida, ou A. andrachne × unedo), herdando traços de ambas as espécies progenitoras, embora os frutos não se vcriem livremente, e como híbrido é improvável que se reproduza a partir de sementes ; é vendido na Califórnia como Arbutus x marina nomeado por um distrito de San Francisco, onde foi hibridizado.
                                                                                                                                 
características morfológicas
o medronheiro tem normalmente um crescimento do tipo arbustivo, até uma altura de aproximadamente 5-10 m, raramente até 15 m, com um diâmetro de tronco de até 80 cm;
o tronco, tortuoso, possui um ritidoma delgado, gretado, pardo-avermelhado ou pardo-acinzentado, muito escamoso, caduco em pequenas placas nos exemplares mais velhos; os ramos, erectos, são também tortuosos e brotam do tronco a partir de 50 cm do solo e são também bastante espaçados entre si;
a copa é arredondada, com folhas persistentes, lanceoladas, de 5-10 cm de comprimento e 2-3 cm de largura, elípticas, coriáceas, serradas, com pecíolo curto por vezes avermelhado, alternadas, glabras excepto na base, lustrosas e verde-escuras brilhantes na face superior, mais claras na face inferior, com a margem serrilhada, semelhantes à do sobreiro; 
as flores são urceoladas, brancas ou levemente rosadas, hermafroditas, 4-6 mm de diâmetro, produzidas em panículas terminais pendentes de 10-30 no Outono; são polinizadas pelas abelhas; são muito decorativas;
o fruto, o medronho, é uma baga globosa e verrugosa, com 1-2 cm de diâmetro e superfície áspera; é primeiro verde, passando por amarelo e tornando-se depois escarlate a vermelho-escuro durante o amadurecimento que é retardado por cerca de cinco meses depois da polinização; desta forma o fruto amadurece no Outono, quando surgem as flores da época seguinte; as sementes são pequenas, angulares e de cor castanha; é comestível mas um pouco indigesto pois contém muitos taninos; se estiver muito maduro pode dar origem a ligeiras intoxicações alcoólicas; é doce quando maduro e tem gosto semelhante ao figo; contém vitamina C e 10-20% de açúcares; é bastante apreciado no sul de Portugal, onde é usado na produção de licores e aguardentes destiladas; frutifica a partir dos 8-10 anos;

utilização
do medronho, para além de poder ser comido em fresco, fazem-se imensos derivados, desde a geleia, a aguardente (aguardente de medronho) até aos licores, vinagres, bolachas e compotas;
em medicina popular era utilizado como adstringente, como diurético e como anti-séptico das vias urinárias, tem um forte poder antibacteriano e é utilizado na arteriosclerose, diarreia, doenças do fígado e rins; o mel tem propriedades balsâmicas;
é uma árvore ornamental, devido às flores e frutos muito vistosos que sobressaem das folhas verde-escuro, embora fora do seu habitat natural o cultivo seja muitas vezes difícil, devido à sua intolerância à perturbação da raiz;
os frutos, comestíveis, servem a produzir a perfumada aguardente de medronho;
é utilizada  para lenha uma vez que queima com grande poder de fogo e aquecimento; muitos Estados do Pacífico Noroeste, nos Estados Unidos, usam a madeira principalmente como fonte de calor, pois a madeira não tem valor na produção de casas, uma vez que não cresce em madeiras direitas;
a madeira é também boa para tornear;
as folhas e o ritidoma contêm taninos, úteis no curtimento de peles.

histórico
a aguardente de medronho é o ex-libris dos destilados do Algarve; tudo indica que esta aguardente começou a ser produzida de forma artesanal, para fins medicinais, pelos Árabes, em Monchique, por volta do século X.; em 1940 existiam em Monchique 55 alambiques e 3 mercadores de licores (Gascon); em 1905 existiam em Loulé 61 fabricantes de aguardente (Ataíde de Oliveira);
na Grécia a aguardente é produzida com a designaçãode  koumaro, proveniente dos frutos do arbusto designado por koumaria e está documentada desde dos tempos dos Bizantinos (que terminou em 1453);
em Espanha também há experiências de produção de aguardente de medronho e de outros pequenos frutos;
na ilha da Sardenha também se produz aguardente de medronho, (corbezzolo/corbezzoli) mas o mais tradicional são os licores, compotas e rebuçados de medronho.

ocorrência, habitat e ecologia
árvore ou pequeno arbusto, folhosa, de folha persistente, frutífera e ornamental, nativa da região mediterrânica, Europa Ocidental, todo o território de Portugal continental, o Norte de Espanha, as regiões das Ilhas Canárias (Tenerife), sul da Europa, Irlanda, norte de África, Palestina e  América do Norte, que pode ser encontrada tão a norte como no oeste de França e na Irlanda; sobrevive em zonas de elevado declive onde dificilmente outras culturas sobrevivem;
ocorre consociada às Quercíneas, particularmente ao sobreiro e à azinheira, em bosques mistos, nos montados e em zonas de matos resultantes da sua degradação, em precipícios e desfiladeiros fluviais e em solos rochosos;
em Portugal é espontânea em quase todo o território, embora com maior frequência a sul do Tejo, onde adquire importância de relevo, sobretudo nas serras de Monchique e Caldeirão, nas quais ocupa proporcionalmente grandes superfícies;
o medronheiro, devido à degradação da floresta primitiva, é hoje uma das  únicas espécies com porte arbóreo em matos perenes, nas orlas de bosques nas encostas e mais terras, outrora cobertas de carvalhos;
é uma árvore tolerante ao sombreamento; suporta climas com períodos estivais secos e pluviosidade baixa, bem como altitudes elevadas, até aos 1200 m; prefere solos siliciosos da costa ou da montanha, mas suporta os calcários e pobres em húmus, de textura e humidade médias; renova bem pelo cepo;
a reprodução do medronheiro obedece a um mecanismo natural desta espécie; começa com a queda do fruto maduro, no Outono/Inverno, a partir do qual se produz uma maceração e fermentação das sementes; a maceração é ajudada, em grande parte, pela manta vegetal e o sucesso de germinação, na Primavera seguinte, dependerá das condições edafo-climáticas em que decorreu essa maceração/fermentação;
prospera com relativa exposição marítima e tolera a poluição industrial;
vive para além de 200 anos , mas é mais produtiva entre os 15 a 25 anos;
esta espécie não foi analisada pela IUCN Red List.      

sistema
terrestre

outras notas
este arbusto de folhas persistentes estava, para os Antigos, ligado à morte e à imortalidade: "Apressam-se a entrançar os caniços de um esquife flexível com ramos de medronheiro e de carvalho, erguendo um leito fúnebre sombreado de verdura", escreve Virgílio, descrevendo as exéquias de Palas, companheiro de Eneias (ENEIDA, 11, 63-65);
o medronheiro faz parte do brasão (El oso y el madroño) da cidade de Madrid, Espanha; no centro da cidade (Puerta del Sol) há uma estátua de um urso comendo o fruto do medronheiro, o medronho. A imagem aparece em cristas de cidade, táxis, tampas de homem-buraco, e outra infra-estrutura de cidade;
o medronheiro era importante para os povos do Straits Salish, da ilha de Vancôver, que usou a casca e as folhas da árvore para criar produtos medicinais para o resfriamento, problemas do estômago, tuberculose e como base para contraceptivos; a árvore também figurava em certos mitos do estreitode  Salish: de acordo com o Straits Salish, uma forma antropomórfica de pez, iria pescar mas voltaria à costa antes de ficar muito quente; um dia chegou tarde demais para voltar para a praia e derreteu com o calor e várias árvores antropomórficas correram para o agarrar - o primeiro foi Douglas Fir, que agarrou a maior parte, o Grand Fir que ficou com uma pequena porção, e o Medronho que não recebeu nada - é por isso que dizem que ainda não têm pez;
também, de acordo com as lendas do Grande Dilúvio de vários sítios do noroeste, o Medronho ajudou as pessoas a sobreviver, fornecendo-lhes uma âncora no topo de uma montanha; devido a isso o povo Saanich não queima o medronho como agradecimento por tê-los salvado;
“My love's an arbutus, Meu amor é um medronheiro” é o título de um poema do escritor irlandês Alfred Perceval Graves (1846-1931), musicado pelo seu compatriota Charles Villiers Stanford (1852-1924):

My love's an arbutus
By the borders of Lene,
So slender and shapely
In her girdle of green.
And I measure the pleasure
Of her eyes' sapphire sheen
By the blue skies that sparkle
Through the soft branching screen.

But though ruddy the berry
And snowy the flower
That brighten together
The arbutus bower,
Perfuming and blooming
Through sunshine and shower,
Give me her bright lips
And her laugh's pearly dower.

Alas, fruit and blossom
Shall lie dead on the lea,
And Time's jealous fingers
Dim your young charms, Machree.
But unranging, unchanging,
You'll still cling to me,
Like the evergreen leaf
To the arbutus tree.





My Love's An Arbutus, Joanna Henwood, melodia tradicional irlandesa

https://www.youtube.com/watch?v=xFAhnpRBwOE


fontes.
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Costa, Margarida. Vamos apanhar medronhos, Público Online, [url] https://www.publico.pt/jardinagem/jornal/vamos-apanhar-medronhos-25498132, ac. 03.11.2012.

Árvores e Arbustos de Portugal. Medronheiro, [url] http://arvoresdeportugal.free.fr/IndexArborium/Ficha%20MedronheiroArbutusunedo.htm, ac. 18.03.2017.

Florestar.net. Medronheiro (ervedeiro), Arbutus unedo L., [url] http://www.florestar.net/medronheiro/medronheiro.html, ac. 18.03.2017.

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